Requinte com dedo português

Aos mais conhecedores pode recordar a tradição britânica do século XVIII, quando era comum os cavalheiros mandarem fazer o vestuário à sua medida, com direito a inscrição do próprio nome no tecido, sinal de exclusividade e requinte. Bespoke significa, na realidade, o ato de criar uma peça de roupa a pedido e de acordo com as caraterísticas do comprador. E foi precisamente esta a inspiração da marca de roupa e acessórios masculinos que nasceu nos Estados Unidos e resulta da união de dois irmãos portugueses e três britânicos, também irmãos, de ascendência egípcia: Paulo e Carlos Gonçalves, James, Sam e Liam Fayed.
É preciso recuar alguns anos e traçar trajetos para chegar ao momento em que os cinco se encontram em Los Angeles e decidem avançar para o design de moda. Nenhum deles tinha formação na área e conheceram-se por acaso, quando Paulo Gonçalves - que trabalhava em publicidade mas tocava numa banda de rock - decidiu colocar um anúncio para recrutar um baterista. Sam Fayed, estudante de cinema, respondeu à chamada.
Passou pouco tempo até que os irmãos se conheceram e descobriram que partilhavam o mesmo entusiasmo pela moda. Depois, foi questão de gerir recursos:os Fayed, cuja família adquiriu na década de 1990 a Turnbull & Asser, uma das marcas de camisaria mais tradicionais e conhecidas em todo o mundo, cresceram a saber dos meandros da indústria têxtil. Carlos Gonçalves trabalhava em finanças e Paulo sabia melhor do que ninguém como se constrói uma marca e se afirma junto do grande público.
Uniram esforços para responder a uma lacuna que reconheceram no mercado, partindo da sua própria experiência: os consumidores masculinos, ainda jovens, não tinham uma marca que conjugasse a qualidade da tradição com um toque de modernidade e irreverência.
Em 2008, a Bespoken nasceu em Los Angeles. Em quatro anos, muita coisa mudou: foi necessário deslocar a sede para Nova Iorque, a cidade que nunca dorme e tem sempre o olho aberto para os bons negócios. Pelo caminho, Carlos decidiu abandonar o projeto, porque não quis abdicar da vida na Califórnia, mas Paulo manteve-se, assim como a restante equipa. Para ele, tratou-se de um regresso. Até há poucos anos, vivia com os pais e o irmão em Long Island, no estado de Nova Iorque, onde está centrada uma grande comunidade portuguesa, mas quando, depois de duas décadas nos EUA, os progenitores se reformaram e regressaram a Portugal, Paulo e Carlos foram viver para Los Angeles.
A marca tem somado sucessos e é cada vez mais referida nas revistas da especialidade, acumulando pontos de venda por todo o mundo. Já chegaram à famosa Sacks, na Quinta Avenida, e estão felicíssimos, porque afinal o conceito era inédito e podia não convencer: «Somos parte Savile Row [a famosa rua dos alfaiates em Londres], outra parte rocknroll», sublinha o próprio Paulo , ao telefone de Nova Iorque.
Paulo garante que não foi a nostalgia lusa que fez que a Bespoken tivesse, além dos fornecedores em Inglaterra e em Itália, uma unidade em Guimarães a produzir para a marca. «Podia ter sido mais fácil fazer negócio na Ásia, mas nós somos pela qualidade e em Portugal faz-se um trabalho incrível», reconhece. Os tecidos que usam são europeus e cada camisa é trabalhada por 16 artesãos, que colocam o nome numa etiqueta que os clientes recebem na compra. «Levamos o corte e a silhueta muito a sério», explica Paulo. Na fábrica de Inglaterra, por exemplo, não há linha de montagem. «São pessoas com grande experiência, que têm a seu cargo a confeção das peças. E sobre elas que queremos colocar os holofotes.»
Considera que o preço, apesar de acima da média (cada camisa ronda os duzentos euros), é acessível aos consumidores aquém a marca se dirige, interessados em fazer um investimento e vestir uma camisa feita propositadamente para eles. A obsessão
com os pormenores é tal que, no site da marca (www.bespokenclothiers.com), é possível encomendar uma camisa à medida: basta incluir as medidas, escolher o padrão, o estilo dos punhos e do colarinho.
O design é decidido em conjunto, de forma pouco convencional. «Definimos todos a orientação da coleção e o seu estilo», assegura Paulo. Já quando se passa à materialização das peças, cada um tem a sua área de especialidade: Paulo trata do marketing, os restantes sócios dividem-se pelas áreas de produção.
O êxito da linha masculina fê-los pensar emaventurarem-se numa coleção feminina mas, para já, estão apenas em negociações com um designer que poderá vir a ter alguma intervenção na criação para mulher. Mas pouco revelam. Ain
2013-01-14 11:29:26
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